A diversão e o bom ambiente no treino deverão ser norma |
Ora, o problema residirá muito, provavelmente, no método de treino.
Em primeiro lugar, as circunstâncias mudam. Há 10 anos, aquele que era um treinador forte necessita continuar a evoluir e a formar-se diariamente para se manter forte daqui a 10. Ou simplesmente para evitar o esquecimento.
Em segundo lugar, os clubes representam o contexto apropriado à prática. Se há treinadores que resultam numa estrutura mais forte, há outros que necessitam da adversidade e da pressão diária para se tornarem mais competentes, isolando o grupo.
Em terceiro e no principal, os jogadores são hoje totalmente diferentes. A personalidade, o conhecimento, os anos de prática tornam o jogador um objeto muito mais complexo de satisfazer. E isso evoluirá necessariamente um bom treinador.
Agora, centrando o nosso objeto de estudo. Então porque as fórmulas não resultam sempre? Porque os exercícios específicos e meta-específicos não funcionam de forma idêntica, especialmente na formação? Bem, logicamente porque os intérpretes, os atletas não são os mesmos. Podemos dar-nos ao luxo de trabalhar com conceitos complexos, com jogos de setores rebuscados com crianças de 9 anos que tenham uma base sólida e poderemos ser limitados com atletas de 12 anos por estes desconhecerem o conceito de receção orientada.
Daí que seja fulcral adaptar à realidade e à competência base dos praticantes, sem saltar etapas. Por rotina entendemos toda a ideia de jogo, as regras de conduta, os momentos do jogo, as competências individuais e coletivas a alcançar a curto, médio ou longo prazo. Por repetição entendemos o sistematizar uma ideia ou um processo através do mesmo exercício. E é neste ponto que é vital haver uma consciência prática do exequível.
Procurar estabelecer regras de organização de treino, estimular as mesmas competências durante várias semanas é altamente imperativo e desejável. Mas isso nunca pode significar que se repita o mesmo exercício. Justamente porque este resultava no Benfica ou no Sporting.
Há dias discutia-se a defesa que um treinador da formação de um clube grande fazia e que isso era universalmente competente. E que continuava a não perceber porque não resultara num clube dito pequeno.
A resposta está no tempo de prática e no talento individual. Um atleta dessa equipa grande teria 3 anos de prática e um dom já minimamente potenciado. Por outro lado, a equipa de menor dimensão era forçada a competir com jogadores menos hábeis e com 6 meses de prática. Sem milagres, mas acima de tudo sem utopias. Mais do que promover a repetição de exercícios que deram resultado, dever-se-ia apostar nas rotinas de competências básicas individuais e nas de organização coletiva para poder exponenciar a adaptação à realidade e ao contexto.
As crianças não jogarão sempre com apoios em jogo, nem deverão fazer sistematicamente uma combinação direta padronizada. Devem sim aprender a levantar a cabeça e perceber o espaço livre para atacar. Uma criança que repete 4 vezes o mesmo exercício desmotivará e não se empenhará na tarefa (a não ser que este seja lúdico). Portanto, por mais fantástico e digno de um Guardiola que seja o exercício, o treinador deverá arranjar objetivos diferentes, condicionantes específicas que aumentem a complexidade e o interesse no mesmo.